quinta-feira, 17 de julho de 2014

Personenunfall ou o egoísmo da Humanidade!

Foram carros da polícia. Foram carros dos bombeiros. Foram ambulâncias. Passaram mais de dez veículos à frente da loja. Iam a toda a brida e foram parar junto à estação de comboio perto da loja.

Primeiro começaram as piadas: andam à tua procura, D.. - Não, andam à tua.
Depois, com a continuidade de sirenes, começou a curiosidade a saltar dentro de todos.
Até que a iluminada da Luzia telefonou a avisar que ia chegar tarde por causa de um Personenunfall (acidente com pessoas, será uma tradução possível, normalmente, nas linhas de comboio é uma forma educada de dizer que alguém se suicidou).
Pouco depois já alguém dizia que tinham sido dois acidentes diferentes (não cheguei a perceber).

Entretanto chegou a minha hora de sair. Fui à estação ver se poderia ir para casa. Eu costumo usar a linha 3, o que implica descer umas escadas e subir outras. Mas a linha 1 fica mesmo, mesmo... ali... à nossa frente, ao nível do passeio... não faz desvio nenhum... e já se está lá.

O comboio parado no cais, mas não no sítio onde seria previsto. O maquinista conseguiu travar o comboio antes do sítio certo, mas com a tragédia na mesma. Entretanto, a minha curiosidade mórbida puxou-me para mais perto (eu não me entendo, tenho medo da morte e não gosto de ver mortos, mas fui para lá, correndo riscos de ver o que não desejasse).
Havia seguranças por todo o lado e fitas dos bombeiros a delimitar o perímetro. Mais à frente algo no cais, mas encostado ao comboio, coberto com um saco de plástico  (não sou ingénua!). E ainda mais à frente tendas da polícia.

Com atrasos, mas os comboios que costumam circular na linha 2 e 3 estavam a andar. Então fui para o meu cais. Aí vi o resto. A linha dois fechada, mais seguranças, mais fitas dos bombeiros. Mais técnicos. Um polícia a fazer fotos num sítio do comboio. Noutro sítio mais atrás havia plásticos pretos a taparem um bocado do comboio junto às rodas e mais técnicos à volta do que a nossa imaginação sabe.

Não vi sangue, nada que pudesse chocar uma criança sequer. Mas... aconteceu uma coisa que bateu forte e nem foi na estação de comboios!

Quando cheguei à estação apercebi-me que tinha deixado umas coisas na loja, como os comboios estavam atrasados, resolvi voltar.
Entretanto a iluminada de Luzia tinha chegado. Como é óbvio, comentava-se a situação. E ela extremamente indignada porque aquilo tinha acontecido, se se querem suicidar que não o façam na minha linha de comboio.

Ninguém gosta de estar horas à espera do comboio. Ninguém gosta de, no fim do dia de trabalho, ver o seu comboio a ser cancelado porque alguém se resolveu atirar à linha. Mas...
Ponto um: não se sabe se foi suicídio ou acidente. Se foi acidente. What the f***? Que é que ela quer?!?! Não é coisa que se preveja, que se evite como se pode evitar uma multa de estacionamento.
Ponto dois: se foi suicídio... onde estava esta pessoa?! Saltar para a frente de um comboio, toda a gente sabe, acaba mal. Quem salta para a frente do comboio não está a tentar matar-se, quer mesmo matar-se. Volto a perguntar: onde está essa pessoa?!?! Na fossa. No fundo. Mesmo que por argumentos fúteis, quando se chega ao suicídio... é porque estamos mal, no limite.

Assim, seja qual tenha sido a origem deste incidente que deixou muita gente apeada ao fim do dia de trabalho... temos que ter paciência e ser humanos. Pensar que nós ficámos vivos, que nós não estamos assim tão na fossa que nos apeteça saltar para a linha, que devemos agradecer por não ter sido o nosso amigo, o nosso familiar. Devemos pensar que um dia a tragédia pode tocar-nos de uma forma mais próxima, mais profunda, mais fatal do que um simples atraso de umas horas no comboio.

E foi o comportamento narcisista daquela atrasada mental que me deixou completamente chocada, abanada e, uma vez mais, decepcionada com a Humanidade!

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Ich habe mich lieb!

Na semana passada tive que ir ao Zoo para o meu chefe de lá me assinar as folhas de serviço. Em coisa de meia hora deu-me para tudo...

Primeiro, enquanto esperava que ele viesse ter comigo estive a reparar bem nas placas que estavam por lá e aprendi mais algumas de dialecto.
De repente fixei-me numa palavra e não chegava lá. Que raio quereria dizer Wy?!?! Eu sabia que era dialecto, mas... e o resto?!?! Até que... 3000 horas depois eu percebi. Então resolvi copiar a lista e escrevê-la aqui.

Brot von Fredy's (pão do Fredy's [seja lá quem ele for])
Heissi Getränk (em alemão de gente, é o mesmo que heisse Getränke, [bebidas quentes])
Kalti Getränk (em alemão: kalte Getränke [bebidas frias])
Bier (esta acho que toda a gente sabe e não tem versão suíça)
Aperöle (são bebidas/misturas de bebidas para aperitivos)
Wy (lê-se qualquer coisa como ví) esta deu-me cabo da cabeça... Wein!!! (lê-se qualquer coisa como vain) e quer dizer vinho.


No entanto, o que realmente valeu a pena nesta pequena incursão ao Zoo foi a conversa do meu chefe (ex). No fim, quando saíres da loja, se quiseres trabalhar connosco contacta-me. Tens o meu cartão?
Oh! Estive ali quatro semanas. Mal falava com os meus colegas de trabalho e/ou superiores pois o sítio onde eu estava o tempo todo era isolado (deles, mas próximo dos clientes).
Mas mesmo assim... eu deixei boa impressão! Quando cheguei à rua uma lágrima apareceu no canto do olho. Fiquei tão eufórica que nunca mais me lembrei da lista das palavras em dialecto (até as encontrar hoje misturadas com outra coisa).
Receber uma proposta destas enche-me de orgulho. Orgulho assim a tocar na arrogância. Mas sem nunca lá chegar porque... simplesmente é o reflexo do meu esforço. E quando nos orgulhamos do que fazemos bem, com esforço e perseverança e respeito pelo outro e a sorrir... todo o orgulho do mundo não chega a ser arrogante!

Ich habe mich lieb seria qualquer coisa como eu tenho-me amor. Uma adaptação de Ich habe dich lieb (eu tenho-te amor). Que, confesso, acho bem mais romântico do que o Ich liebe dich, embora aquela versão seja mais para se dizer aos amigos e à família. (manias dos germânicos!)

terça-feira, 15 de julho de 2014

E a volta é cada vez maior, amigo!

As aulas de perder tempo (as aulas teóricas depois de eu fazer a prova teórica) já acabaram há que tempos. Mas eu tinha umas notas para escrever aqui. O tempo foi passando eu já estava a pensar deitá-las fora. Mas... depois da aula de condução de hoje, resolvi outra coisa. MAs se a minha professora pode mudar de ideias, eu também posso...
Comecemos pela aula de hoje.
Sempre fui de meter o carro para a berma da estrada (forma de dizer). Não tenho necessidade de ir em cima dos carros de se cruzam comigo. Se tenho espaço, por que não?!?! Mas ela disse que não, que eu tinha que me chegar à esquerda por causa dos passeios (não sei bem o que quererá dizer com isso) e por causa dos ciclistas... Comecei a chegar-me ao meio para satisfazer os desejos da menina. Ia eu muito bem e mete-me ela a mão ao volante: como eu te disse antes, tens que te chegar mais à direita. Ainda não percebi bem a coisa, ou eu tenho duas instrutoras, gémeas, ou ela é bipolar...

Mas voltemos às aulas teóricas...

Em 1991, os meus pais trocaram um Renault 4L(atas) cor de vinho por um Peugeot 205 vermelho. Mais de 20 anos depois continua a ser O carro da minha mãe. Levou um arranhão meu por causa do meu pai, uma frente nova por causa do meu irmão e a porta do condutor está ligeiramente forçada por causa de um assaltante sem sorte. Falta-lhe a antena porque algum palhaço a roubou (não serve de nada porque não é de enroscar, está simplesmente partida). É um carro sem nada eléctrico a não ser o rádio (que já é um substituto do de origem). E ar condicionado? Só pela meteorologia: calor lá fora, um forno cá dentro, frio lá fora, um frigorífico cá dentro.
É cheio de defeitos mas continua a ser o Porsche da família.
Como é antiguinho só tem quatro mudanças. Mas mesmo tendo estas características não é assim tão velho! O radiador do "Porsche" da família é daqueles que já não tem tampa. Como quase tudo o que é carro que se preze, os radiadores são feitos de modo a serem controlados só por mecânicos mesmo.
No entanto eu tive que aprender onde está a tampa do radiador e ao mesmo tempo aprender que um radiador quente não se abre (se não te tampa... gostaria de saber como se tenta abrir. será com um abre-latas?!). Quer dizer, eu não aprendi nada de novo, mas foi assim que eu andei a perder tempo ontem à noite.

No entanto, no dia seguinte a coisa continuou... com estas aulas aprendi que, na Suíça, o pessoal não sabe atestar o carro e trocar o combustível e a coisa mais banal que há nesta terra. Além disso, para quem mandas os cigarros para fora do carro: é muito normal o cigarro voltar para dentro do carro. Hã!?!? Nem a porra da beata sabem atirar fora?!??! Eu sou um génio!

Aprendi mais o quê?!? Não se deve atirar beijinhos aos carros que estão "colados" à nossa traseira. Pois os condutores são violentos. E perdem-se quase 10 minutos a explicar isto...

Por fim (deste post, pois acredito que a coisa ainda me vai dar dores de cabeça), acho fascinante a burocracia pós exame de condução.
Se formos aprovados, temos 3 anos de tempo de prova. E fazer mais dois cursos. Se houver problemas o tempo de prova pode ser prolongado mais um ano. E se no fim desse prolongamento houver asneiras há um ano de pausa. Não pode conduzir de maneira nenhuma. No fim tem que se fazer testes psicotécnicos e depois é que se pode voltar a tirar a carta.

Agora expliquem a coisa aqui à atrasada: tanto medo e burocracia e eles conduzem tão mal?!?!


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Isto é o que é

Ontem fui controlada no comboio. Durante anos usei aquela linha e nunca me chatearam, agora chego a ser controlada duas vezes ao dia. Como tinha o passe em ordem... não me preocupei, mas é sempre chato interromper a leitura pro causa destas cenas.
No banco à minha frente iam duas estrangeiras. Uma sacou do passe anual e apresentou-o à pica.
A outra... ai a outra... Ela tem aspecto físico de quem é da Eritreia ou ali perto. Com lenço na cabeça a demonstrar que era muçulmana. Um semblante afectado que dava dó, dava vontade de pegar nela e abraçá-la. Quando viu que havia controlo, olhou para dentro da mala e não se mexeu. Quando a controladora apareceu tentou dizer em alemão que tinha esquecido o porta-moedas. Não conseguiu. Foi a amiga que esclareceu a coisa.
Tinha que se resolver a situação e só faltou à controladora fazer o pino para tentar comunicar com a mulher porque ela não falava alemão, mas também não parecia muito interessada em fazer-se entender... A controladora, no desespero, virou-se para a amiga e usou-a como tradutora. Sempre a sorrir, a controladora deu uma caneta e um pequeno formulário para a mulher preencher. E agora vem o mais engraçado...
Ela preenche o papel, devolve o bloco dos formulários à pica e mete a caneta na mala. A controladora, sempre a sorrir, fica a olhar para ela. Como ela não se mexesse, diz-lhe: a caneta é minha. mas eu acompanho-a (elas iam sair naquela estação de comboio). A gaja que até ali não tinha dito uma de jeito, vira-se e diz num tom trocista que a pica já não deve ter ouvido: oh Schade!. (Oh que pena!)
What the f***?!?! Resumindo: Ela não tem o passe. Ela (porque não sabe ou porque não quer) não consegue comunicar com a controladora. A controladora é simpática e educada com ela. E ela tenta roubar-lhe a caneta e ainda goza com a situação?!?!

Depois não querem que os suíços não se passem... Convenhamos... eu detesto pagar impostos para sustentar esta gente... têm azar no país deles? tenho pena, respeito e não me importo que venham para cá. Mas assim... é uma caneta, mas... a índole está lá.

Agora chamem-me radical, racista e tudo o que quiserem. Mas... só gostaria de saber quantos não se importariam de sustentar este tipo de pessoas... É que este é só um exemplo. Porque se eu um dia resolver falar da minha vizinha do rés-do-chão e dos seu amigos... vê-se que a croma de ontem, infelizmente, não é um caso isolado.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

A cultura geral de algumas pessoas é...

Uma colega minha vai passar férias a Portugal. Uns dias no Algarve e uns dias em Lisboa. Eu disse-lhe que no Algarve é mais fácil encontrar gente a falar alemão por causa dos turistas e dos residentes  naquela parte do país. Mas também lhe disse que mesmo não falando alemão, toda a gente sabe falar inglês.

Passa uma croma que eu nem o nome sei e diz com todo o conhecimento do Mundo:
Em Portugal ninguém fala inglês.
Subiu-me um vapor...
- Está-te a passar?!?!? Ninguém???
- Sim, ninguém.
- Tu não digas isso, que é a nossa primeira língua estrangeira. Tu nunca foste a Portugal.
- Fui sim....

- Onde?
- Pindelo.


Pindelo?!?!? A sério?!??! Pindelo?!?!? Ela pega em Pindelo e dali faz uma ligação ao resto do país?!?!? Pindelo?!?!?

Saltou-me a tampa e disse-lhe que na região do Graubünden (Grisões em português) também há muita terriola onde ninguém sabe falar inglês. Ou pior ainda, onde há gente que não sabe falar alemão, que é só a língua mais falada da Suíça. Isto porque neste cantão há terras com meia dúzia de habitantes que ficam lá isolados no meio das montanhas a falar romanche. Não tenho nada contra, mas não é porque eu vou a uma aldeia dessas que digo que na Suíça ninguém sabe falar inglês ou, ainda mais ridículo, ninguém sabe falar alemão.

Pindelo... a sério que não me aparece ninguém normal na vida?!?!? E eu nem perguntei se era dos Milagres, porque se for... ainda me assusto mais!