quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Ser despassarada ou não ser...

Se me perguntarem que defeitos tenho, o mais provável é eu começar com ser despassarada. Mas isto não é para ser visto de forma linear. Na realidade, esse ser despassarada para os de fora é, na minha maneira de ver, uma forma de o meu cérebro filtrar a informação que me interessa.

Sou despassarada quando uma pessoa cortou as pontas do cabelo, fez madeixas ou engordou dois quilos. Eu não perco tempo com coisas mínimas. Passo logo para o humor, para o olhar e para o sorriso. Isso diz-me se a pessoa está feliz ou predisa de um carinho.
Se conhecer uma pessoa nova não reparo se traz roupa Sacoor ou Sakoor, quanto muito reparo se é camisa ou camisola. Não reparo se tem carro caro, nem se tem jóias ou um diploma.  Eu não perco tempo com coisas mínimas. Passo logo para o humor, para o olhar e para o sorriso. Normalmente são estes os elementos que me permitem ver como a pessoa é e que cativam (ou afastam).

Ou seja, a bem da verdade, eu não sei (nem quero saber) detalhes que a mim não me dizem nada (basta ver o meu carro, o meu guarda-roupa, os meus acessórios...), mas depois, o que realmente interessa, estou antenada, como dizem os brasileiros. Isto é... sou tudo menoss despassarada...

Acho simpático responder a um email, mandar um postal, prometer dar notícias e cumprir. Acho que é de valorizar o cuidado de se oferecer uma prenda personalizada, que agrade a pessoa que recebe (e somente a pessoa que recebe, aprendi que essa história de oferecer-uma-coisa-que-me-agrade-também é das coisas mais estúpidas neste planeta). Destesto, odeio, abomino a nova moda de espetar um "Parabéns. Bjs :)" no livro das caras e só porque o mesmo nos lembrou disso. Uma mensagem (mesmo que no FB) pessoal, privada, com mais que uma linha... detalhes agradáveis, em tudo opostos ao "despassarada" lá de cima.

E como eu, analisando bem a coisa, não me considero nada despassarada, começo a ficar farta das pessoas que não me dão os parabéns porque a data não está no FB (estou a falar de gente que conheço de muito antes da rede social nascer, não as pessoas que me conhecem só virtualmente). Começo a perder a paciência que não atendam o telefone em horários decentes e depois retribuam quase de madrugada só porque, despassarados, não ouviram o telefone. Começo a ficar farta que só mandem notícias quando eu mando e comecem com ando há que tempos para te escrever e rematem a mini-mensagem com eu mando-te um mail com detalhes esta semana. E e depois não apareça nada até eu voltar a dar notícias e voltamos ao ando há que tempos para te escrever e rematem a mini-mensagem com eu mando-te um mail com detalhes esta semana... uma equação de infinito elevado o cubo...

Dependendo do meu humor, uns dias dá a sensação de desleixo dos outros, outos dá a sensação que estão fartos de mim, mas que não o querem dizer e acabaram de inventar uma desculpa esfarrapada... seja de que forma for, parece-me que já vai sendo tempo de as pessoas (as que eu conheço, mas também as que nunca se cruzaram comigo, mas fazem destas aos seus amigos) serem menos despassaradas e preservarem as amizades. Qualquer dia neste mundo só vai haver pessoas a clicarem em "gosto", lamentando a inexistência da tecla "não gosto", usando aplicações com bandeiras em marca de água por vítimas de guerras que não conhecem, não vivem (e ainda bem!), mas que existem. Que existem por causa de certos animais, mas também porque as amizades são cada vez mais débeis à custa da falta de tempo, da crise e dessa característica-desculpa pessoal que é ser despassarado.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

WAB2 e a esperança no fim do pesadelo

3000 euros, fazendo a conta por baixo, foi quanto eu gastei na porcaria da carta de condução nesta terra. Curso disto, curso daquilo, até duas pós-graduações (WAB =Weiterbildung = vão ver ao dicionánrio se ando longe).

Se não mudarem as regras, não tenho que fazer mais nada a não ser esperar que passe o tempo de prova (ainda mais dois anos!) para, FINALMENTE, obter a minha carta de condução definitiva.
Isto não uma cesariana, foi mesmo um parto a ferros!!!! Mas o último esforço foi feito na Segunda. Embora que não  foi por ter sido o último que a coisa se tornou mais fácil ou mais simples ou mais interessante ou mais coerente. Uma vez mais, deitei dinheiro fora e perdi um dia (deitada no sofá a ver o reality show do momento, teria tido mais proveito!!!)

Ora vejamos, começou-se o dia com um filme com dois cromos a baterem na cabeça um do outro com uma colher de pau. Para que serve o vídeo?!? No F-idea!
A partir daí foi a descambar... passei o dia a ouvir falar do futuro que vai ser dos carros automáticos. Quea fórmula 1 é um bo  tubo de ensaio para esse futuro. Sónaquela... os carros de corrida têm mudanças de que tipo?!? (Pergunta retórica) Pois... para quem não sabe conduzir e para quem não gosta nada de conduzir... talvez. Para mim, é bem mais interessante a interacção com a caixa das mudanças do que ir ali só a carregar ou a soltar o acelerador... mas isto sou eu...
Ah! E que ninguém ouse dizer que conduzir um carro convencional é diferente de conduzir um automático, ou quem diz isso, diz um caro pequeno contra um grande. Segundo aqueles instrutores da treta, é tudo a mesma coisa. Nem comento, porque me dá urticária...

Depois, andámos a gastar gasóleo para supostamente aprendermos a conduzir de forma ecológica. Irónico, não?!? Aprendemos com um carro automático, embora nenhum dos alunos tenha um carro automático ou esteja para aí virado (euzinha... foi a primeira vez que conduzi uma coisa daquelas [e espero nunca mais conduzir um...])
Nessa coisa de aprender a conduzir de forma ecológica (e teoricamente mais económica), foram dadas muitas instruções: subir as mudanças, ter cuidado com as rotações, equilibrar a carga e outras coisas banais que qualquer anormal sabe que faz bem ao seu machibombo.
Mas... eu aprendi mais umas quantas... acelera-se e depois solta-se o acelerador e deixamos o caro rolar, sem travar. Esta é linda!!! Dependendo do sítio e da situação, soltar o pedal do acelerador sem fazer mais nada vai fazê-lo andar aos solavancos. Se não travarmos, nem controlarmos com a caixa de mudanças também me parece que pode ser altamente perigoso... mas sou eu que acho...
Descobri também que se formos num pára e arranca ou se subirmos e baixarmos as mudanças temos a sensação que andamos mais rapidamente. Eu devo ser um atraso de vida... pois eu achei que o meu colega que ia a fazer outro tipo de condução (de propósito) conduziu mais rapidamente do que eu e na realidade... ele demorou 1 minuto e alguns segundos a menos do que eu a fazer os mesmos quilómetros... ou seja, a minha impressão era uma realidade, mas eu devia ter tido a impressão ao contrário. Hã?!? Se eu tive a impressão correcta, não quer dizer que tenho mais sensibildade para aquilo?!?!
No entanto, o ensinamento que mais gostei de ouvir (ou então não) foi um que eu conheço há anos: fazer descidas em ponto morto poupa energia e como consequência minimiza as emissões poluentes. Isso eu sempre soube, mas... nunca pensei que um instrutor escrevesse isso um quadro em sala de aula. É como um pneumologista estar a dar uma consulta de cigarro na mão. Ou o professor de português usar calão na sala de aula. Nós sabemos que existe, mas não estamos à espera que as autoridades na matéria nos digam para fazer o que eles sabem que não é bom fazer...

Depois ouvi coisa giras de como se pode saltar de quinta para terceira ou de quarta para segunda ou de sexta para quarta plena autoestrada. Até pode ser, mas não vou ser eu a arriscar essas cenas na minha caixa de mudanças...

Anda ouvi que quem conduz na autoestrada não se deve preocupar com nada porque na autoestrada não acontece nada de relevante que prejudique a nossa condução. Esta foi proferida por uma aluna, mas eu já estava tão fartinha daquilo que me saltou a tampa e dei-lhe um berro e só me faltou chamar-lhe atrasada mental depois de lhe dar várrios exemplos de perigos na autoestrada (pneus que rebentam, animais, obras, acidentes, até pequenos aviões que podem aterrar!).

 Bolas...quase que tive um esgotamento... os homens são maus condutores porque têm mais acidentes (estou a citar), num acidente numa faixa da esquerda dentro de um túnel não devemos tentar desviar-nos para a direita, pois pode vir um carro. Esta pérola foi depois de vermos um filme de um carro ter conseguiu fugir a um choque em cadeia. O instrutor disse que nunca iria fugir para a direita. Iria manter-se na esquerda (e ficar ensanduichado)... siiiim!!!! como se eu acreditasse que o politicamente correcto de uma aula de condução não seria dominado pelo instinto de sobrevivência...


Eu juro... só a mim para me acontecer tanta treta desta... É que 3000 euros... davam umas ótimas férias num sítio interessante, com motorista permanente!!!!

Eles estão de olho...

No dia em que resolverem fazer um controlo à minha pessoa, vou estar bem tramada... ainda me mandam pagar multa por acumular lixo na mochila... :D
Mas além da vergonha de ter que tirar milhentos pedaços de papel e jornais velhos, sei que nada mais me vai envergonhar ou, melhor ainda, arranjar problemas.

Fiquei a pensar no raio da mochila cheia de entulho por causa do que vi hoje ao sair do trabalho. Numa loja, dois seguranças pediram para um homem se  identificar e estavam a passar vistoria. Com luvas calçadas pediram papéis, que a mulher segurança segurou. A seguir o homem segurança começou a fazer inspecção corporal. Não fiquei para ver, mas sei que procuravam armas e artigos suspeitos e/ou ilegais e depois iriam pedir ao homem que abrisse a mochila e retirasse  o conteúdo.

É... a Suíça tem as fronteiras abertas, mas o controlo é permanente. Em todo o lugar, a qualquer hora, a qualquer pessoa, com mais incidência em pessoas com aspecto e/ou comportamento suspeito. E agora com a pressão dos últimos acontecimentos... o cerco está bem apertadinho, que é para não termos frio....

Se calhar uns são inocentes e não deviam ser perturbados, mas... mais vale perder 10minutos de tempo  do que ficar com a impressão que ninguém se preocupa connosco.

sábado, 21 de novembro de 2015

I've got to be a macho

Andei que tempos à procura da vassoura para varrer a loja. Depois perguntei ao N. (sub-chefe) por ela. Tinha-a emprestado a uma funcionária da loja ao lado. Passado um pouco vem a moça fazer a entrega e eu até lhe peço para não a colocar no sítio, pois não vale a pena. No entanto, com tanto cliente, acabei por deixar a vassoura para mais tarde.
Estava eu assoberbada com tanta clientela, qual não é o meu espanto!, aparece o sub-chefe com a vassoura e deixa-a junto à caixa, sabendo ele que eu  nunca começo a varrer ali... numa de olha já podes varrer, não te esqueças!! que eu até fiz o favor de trazer a vassoura.
Mais tarde, agarrada à vassoura, deixei o meu pensamento voar e apercebi-me que sempre vivi com machistas. Tirando o meu irmão e um amigo meu, nunca vi nenhum homem em Portugal a dizer-me deixa que eu varro. Depois continuei com o exercício mental e quase que não encontrava nenhum ser que salvasse a honra. Lá me lembrei do M. que muito facilmente pegava na vassoura ou na pá quando percebia que o trabalho estava no fim. Claro que muitos outros homens varriam, limpavam nos sítios onde trabalhei. Mas nenhum era o primeiro, de forma espontânea, numa de who cares?!? Eu quero é ir para casa! Havia sempre aquela sombra de vou-fazer-porque-parece-mal-estar-aqui-parado.
É um tanto ou quanto frustrante...

domingo, 15 de novembro de 2015

Coisas que detesto...

... no aeroporto de Lisboa.
Um casal de brasileiros estava perdido, tentei ajudar, mas não sabia. Interpelei um segurança. Respondeu-me por cima do ombro. Literalmente, pois ele não chegou a abrandar a marcha para ajudar.

Detesto que os funcionários falem primeiro em inglês. Estamos em Portugal, fala-se português. Se depois percebemos que não entedem, aí fala-se tudo até se acertar...

As senhoras da limpeza andam sem luvas. Limpam chão, escadas, portas, lavatórios e latrinas... onde andam as asaes?!? Elas apanham doenças na casa-de-banho das mulheres e vão espalhá-las nas casas-de-banho dos homens, nos escritórios, nos balcões que limpam e em que nós tocamos. Depois, ao fim do dia vão levá-las consigo para o autocarro, para o metro, para casa... é uma questão de saúde das funcionárias, mas também é uma questão de saúde pública. Sem falar no nojo!!!
Quando eu limpava no aeroporto, só tirava as luvas para varrer, pois elas incomodam muito com o calor. Mas se o chefe me via sem elas, vinha logo perguntar porquê, eu explicava e ele ia-se embora reforçando que eu só podia deixar as luvas para agarrar na esfregona ou na vassoura. Se fôssemos apanhadas a mexer no lixo ou limpar sem luvas... eramos advertidos!!! E, claro!!!!!!!, as luvas eram cedidas, diariamente, pela entidade patronal!!!!!

Adenda: depois de três horas e umas quanta idas à casa-de-banho, vejo finalmente uma (UMA!) funcionária a trabalhar de luvas. Uma! Ui!!... que fartura...

Cromices

Estou no aeroporto a fazer tempo e decidi corrigir coisas por aqui (e muitas ainda ficam para trás). E apercebi-me que tinha um post antigo sem ser publicado. Sei que já falei desta figura, mas ele é uma figura tão figura que merece um texto centrado só nele...

O Herr R. é dos clientes mais estranhos que temos. Pede diversos jornais que não mostram relação nenhuma (quem trabalha na banca, por exemplo, compra jornais de economia). Depois só quer exemplares bonitos. Oh pá às vezes até molhados vêm... que hei-de fazer?!? É capaz de telefonar às 6h da matina para dizer que só quer os jornais que tiverem o príncipe George na capa (whaaat?!?). Consegue encomendar jornais que não existem. Tirando as milhentas recomendações sobre o modo como devemos guardar, empacotar e o raio os jornais dele. Depois aparece para aí uma vez por semana a buscar as coisas. Alto, muito alto, com alguma barriga, um pêlo de rato desgrenhado na cabeça, um laço folclórico que normalmente não combina com acamisa também folclórica e entalada de forma estranha no cós das calças.
Chega e apresenta-se como se ninguém conhecesse a peça e faz questão de se dobrar para ler os crachás. Depois de uns dez tipos diferentes de salamaleques paga as tralhas e vai-se embora. Tirando as vezes que temos tudo pronto e el vai embora ah tenho comboio, venho amanhã e levo tudo. Quêêêêê?!? Temos tudo pronto e o cromo só tem que pagar e faz-me isso?!?!
Deixa sempre gorjeta. Não costuma ser má. Mas... ele que enfie a gorjeta num certo sítio que eu cá sei. Preferia não receber gorjeta se isso fosse sinal de um cliente com juízo...

No entanto, parece que sou eu a única que não me deixo comprar por uns trocos... toda a gente reclama dele, mas quando ele lhes acena com dois francos... parecem cachorrinhos em frente a um biscoito.

Para mim vale mais a pena outras coisas. Um sorriso, uma palavra agradável. Uma despedida simpática. Acontece-me quase todos os dias. No Domingo um cliente perguntou se tinha estado de férias. Lá lhe expliquei que tinha trabalhado durante várias semanas no turno da tarde. Ah! é que eu senti a sua falta.
Hoje foi ainda mais agradável. Eu já me tinha despedido da senhora. Ela já estava a caminhar para a saída, pára, vira-se de repente e atira-me com um você é muito simpática. Foi tão inesperado que eu até gaguejei para agradecer. Mas... valeu mais do que qualquer nota de 1000 francos...

Por vezes sinto-me frustrada por viver na Suíça e nas condições que são. Não é por viver aqui e assim, é pelo que me trouxe até aqui. Mas já há muito tempo que aprendi a viver sem criar expectativas loucas. O senhor R. é compensadonpelos sorrisos dos outros e pelas saudades que provoco nos outros. E ao fim do dia posso dizer que vou feliz para casa por ter feito o que fiz. Não sou uma DJ conceituada como o van buren, mas acho que sou tão feliz ao vender revistas como ele é a passar música...